quarta-feira, 22 de junho de 2005

Peça em 1 ato

Cena Final.

Gertrudes – Joaquim, você voltou! Ah, Joaquim, que alegria, Joaquim! (Abraça um cobertor como se fosse o Joaquim) Estava morrendo de saudade. Sempre acreditei que você voltava um dia. Está mais gordo, mais bonito. O quê? Esses corpos? Acabei de matá-los. Eu mesma. E não me arrependo. Não, Joaquim, você está louco? Depois de tanto tempo sem ver você, você vai chegando e já quer me entregar à polícia? Vem cá, Joaquim, vem. Vamos matar a saudade. Você se lembra que eu tinha vergonha de dizer “eu te amo”? Agora eu digo sem ficar vermelha nem nada. Vem cá, me dá um abraço bem apertado. Assim. (Abraça o cobertor carinhosamente) Eu te amo, Joaquim.

Permanece abraçada por um tempo. Lentamente puxa uma faca imaginária da cintura e dá vários golpes nas costas do “Joaquim”.

Solta o cobertor no chão, arrasta-o para próximo dos outros “cadáveres”. Senta junto deles e olha longamente para cada um.

Gertrudes – Agora vocês vão ficar juntos, todos comigo até o fim.

Voz I – É naquele apartamento?
Voz II – Naquele mesmo.
Voz I – E não sai pra nada?
Voz II – Pra nada.
Voz III – Eu não acredito nisso.
Voz II – Nunca mais ninguém a viu.
Voz IV – tem gente que diz que ela mudou.
Voz II – Nem mudou nem viajou. Ela está aí.
Voz III – Duvido! Como é que uma pessoa pode se trancar assim?
Voz II – Mas é verdade. Vamos, o elevador chegou.

A luz continua caindo em resistência, lentamente, com Gertrudes, sentada, contemplando seus “cadáveres”.

(trecho extraído da peça "Há Vagas para Moças de Fino Trato" de Alcione Araújo)

Fecham-se as cortinas.

Aplausos ecoam pelo teatro. Marília definitivamente estava magnífica como Gertrudes. Irreconhecível. Movimentos extremamente fortes, olhares transtornados... tudo naquela doce e frágil figura. Para quem a conhecia pessoalmente o choque era ainda maior. Marília era toda doçura, delicada, voz suave... Em Gertrudes experimentou gestos que seu corpo até então não conhecia. Usou vozes que nem sabia que tinha. Foi um grande laboratório, era o que dizia em todas as entrevistas.

Marília havia acabado de ganhar um prêmio de melhor atriz com a peça. “Há vagas para moças de fino trato” sem dúvida veio para marcar sua carreira. Agora Marília já estava no camarim. Em volta, buquês de flores a parabenizavam pela já reconhecida atuação. Sem pressa, começa a tirar a maquiagem, a desnudar-se de Gertrudes. Vestia-se Marília.


Começa o Primeiro ato
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