quinta-feira, 9 de junho de 2005

A Prova

Elaine chegara no Rio de Janeiro não fazia seis meses. Veio cursar cinema. Passou em primeiro lugar para a UFF. Na primeira semana estava eufórica. Nova cidade, nova faculdade, novos assuntos... Os novos amigos demoraram um pouco pra chegar. Elaine era bem diferente dos outros calouros. Menina recatada, veio do interior. Custou a se encaixar. Havia grupo para quase tudo. Os descolados, os intelectuais, os gays, os revolucionários, os moderados, os alucinados... Isa e Amanda faziam parte de todos. Eram encantadoras. Saíam com todo mundo, eram convidadas sempre para tudo.

Por alguma razão, Isa e Amanda resolveram se aproximar. Elaine não negava um só convite. Juntas foram para festas, bares, boates, rodas de samba... Isa e Amanda freqüentemente beijavam garotas. Não eram lésbicas, apenas gostavam de brincar. Logo na primeira noite com Elaine, as duas se beijaram. O desconforto na nova amiga era visível, mas muito maior era seu esforço em parecer natural. E assim passou-se o tempo. Elaine já estava calejada da sensação, agora mal se incomodava.

Belo dia, finalmente, a tentativa começou. Estavam em uma festa. Comemoração do fim do primeiro período da faculdade. Amanda e Isa organizaram toda a festa. Estava lá a turma inteira, mais um monte de figura da noite cult carioca. Uma amiga das meninas se interessa por Elaine. Amanda e Isa transbordavam excitação. Não era de hoje, já tentavam Elaine para a experiência, mas, especialmente hoje, estavam implacáveis. Elaine não conseguia dizer não. Elas o sabiam bem... Apresentam Elaine a Bebel. De longe assistem ao cruel espetáculo. O desconforto de Elaine agora berrava. Um som mudo, que a seco engolia, empurrado com aquela feminina saliva.
De alguma maneira, fingindo não enxergar a dor que provocavam, Isa e Amanda se divertiam. Queriam ver até onde Elaine iria. Para elas era tudo muito simples, bastava um simples não. Admitir-se desgostosa, aceitar-se preconceituosa.

A noite se estendia. Elaine resistia. De fato surpreendera. Agüentou o quanto pôde. Eram três horas da manhã, seu corpo enfim tomou controle. Elaine começa a passar mal. O ar se torna ralo, lhe faltando nos pulmões. Se despede de Amanda e Isa que a julgam encenação. A essa altura Elaine pouco se importa, quer apenas a sua cama e um pouco de solidão.

Isa e Amanda sem perceber estão muito mais felizes, aprovadas em um teste que nem elas se sabiam. Passaram a noite assistindo um eu que não podiam. O preconceito que nelas se escondia, em Elaine se redimia. E por se verem não sozinhas, sentiam, sem saber, a verdade mais amiga.
Elaine voltou para Ribeirão, onde o preconceito é assumido sem precisar de hipocrisias.

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